Ordem


O Sacramento da Ordem

O ministério ordenado não é apenas uma função, é um sacramento da Igreja, que significa e expressa a consagração e missão de um membro e escolhido e preparado para servir e presidir à comunidade cristã.

O sacramento da Ordem deve ser entendido como a expressão simbólica da graça sacramental de Cristo cabeça, como o significado sacramental de um compromisso com a missão apostólica, como a manifestação personalizada da ministerialidade que afecta toda a Igreja. 

                        I. O Sacramento

«A Ordem é o sacramento graças ao qual a missão confiada por Cristo aos apóstolos continua a ser exercida na Igreja, até ao fim dos tempos; é, portanto, o sacramento do ministério apostólico. E compreende três graus: o episcopado, o presbiterado e o diaconado». (Catecismo Igr. Cat. 1536). 

O Sacramento da ordem é:

  • “a sacramentalização da graça ministerial de Cristo cabeça”.
  • “significação sacramental de um compromisso com a missão apostólica”.
  • “a manifestação personalizada da ministerialidade da Igreja”.

Os escritos do Novo Testamento mencionam uma grande variedade de ministérios e funções no seio das comunidades cristãs, que parecem revelar a existência de diferentes modelos institucionais, talvez ligados a regiões geográficas diferentes e a momentos sucessivos de organização.

Para além dos “Doze” e dos “setenta”, aparece um primeiro grupo formado por “apóstolos, profetas e doutores”, que parecem gozar de alguma proeminência (1Cor 12,28; Ef 2,20; 3,5; 4,11); juntamente com os evangelistas (Ef 4,11; Act 21,8; 2Tm 4,5), dedicavam-se à pregação do Evangelho e estabeleciam novas comunidades de crentes.

Destacam-se “os Doze”, cuja eleição havia correspondido a uma iniciativa pessoal de Jesus, associando-os estreitamente à sua pessoa e ao seu ministério: «Chamou os que queria […] instituiu doze para serem seus companheiros e para os enviar a pregar» (Mc 3, 13-14). Enviou-os em missão com a sua autoridade, como seus representantes, para que, como testemunhas da ressurreição, pregassem, em seu nome, o Evangelho e congregassem o novo Israel.

A sua eleição manifesta a vontade de Jesus de prolongar a sua missão e a sua obra no tempo da Igreja. A tradição considerou os apóstolos como ponto de referência obrigatório, raiz e fonte de todo o ministério na Igreja: necessariamente, “apostólico”.

Dentre aqueles que, de maneira estável, asseguram os serviços nas comunidades já constituídas, encontramos elementos na direcção e governo das comunidades, designados com diversos termos.

A Igreja apostólica introduziu os ministérios que julgou necessários para o bom funcionamento das comunidades e concebeu-os como diakonia à comunidade, e designou-os usando a terminologia profana.

Entre o final do século I e começo do século II ocorreram dois factos relevantes:

Consolidou-se a trilogia dos ministérios estáveis - bispo, presbítero e diáconos - à frente das comunidades cristãs, levando ao desaparecimento progressivo dos outros ministérios.

Surgiu o episcopado monárquico, que é já visível em Antioquia no tempo de Santo Inácio, por volta do ano 110. Nas suas cartas fala de uma Igreja bem estruturada, com centro de unidade no bispo, em estreita colaboração com o colégio dos presbíteros e o grupo dos diáconos.

A partir do século II, para salvaguardar a sua identidade face ao perigo que representaram as primeiras heresias e cismas, sobretudo a gnose, a Igreja aprendeu a olhar para as suas origens: a sucessão apostólica, incarnada nos bispos, sucessores dos apóstolos, foi reafirmada como garantia de fidelidade da Igreja às origens apostólicas.

Neste período surge o primeiro ritual de ordenação. A Tradição Apostólica de Hipólito transmitiu-nos um ritual de ordenações, onde aparecem orações consecratórias, acompanhadas de indicações rituais e disciplinares, distinguindo bem a ordenação do bispo, presbítero e diácono e a designação para outros ministérios.

Nesta época de ouro da literatura patrística encontramos uma adequada atenção às três funções ministeriais (martyria, leitourgia, diakonia), harmonizadas por uma consciência clara da unidade do ministério como missão ao serviço do projecto divino de salvação.

Com a sua mentalidade simbólica, apresentam os ministros da Igreja como imagens de Cristo, símbolos eficazes da sua presença na actividade dos seus representantes.

O ministério é entendido em vinculação estreita com a comunidade local, como função e diakonia para o bem da Igreja. Sublinham a acção do Espírito na ordenação e na actividade pastoral dos ministros.

Os escritores da alta Idade Média (séculos VII-X) não foram criativos na doutrina sobre os ministérios, contentando-se em reproduzir o que lhes chegou da época patrística, ocupando na distinção dos ministérios entre si, em termos de poderes, aprofundando, ainda mais, a separação entre os que detêm poderes na Igreja e o povo fiel.

Assim, a atenção foi-se concentrando nos poderes cultuais dos ministros, mais concretamente, no poder de celebrar a eucaristia. Os outros poderes (funções) – o da Palavra e o do governo - perderam-se de vista, acentuando o processo de “sacerdotalização” dos ministérios.

Com o Vaticano II e a afirmação de uma eclesiologia de comunhão,repliche orologi podemos situar os ministérios no conjunto da missão da Igreja. O ministério já não se define em termos de dignidade, categoria e poderes, mas - na linguagem usada pelo Novo Testamento e pelos Padres da Igreja - de serviço ou diakonia.

A revalorização do sacerdócio comum dos baptizados e das suas responsabilidades na vida da Igreja - graças, em parte, aos movimentos apostólicos - levou a propor novas relações entre o ministério e laicado. Foi, igualmente, importante a redescoberta da índole colegial do episcopado e do presbiterado e a restauração do diaconado permanente.

                        II. Os símbolos da ordenação

A ordenação serve-se de diversos símbolos, com os quais a Igreja quer exprimir a riqueza do significado que atribui à ordenação.

1. A imposição das mãos representa o essencial do rito de ordenação e significa a transmissão de um ofício (missão, ministério ou tarefa) e a comunicação do Espírito (força, graça e poder) necessário para o seu desempenho. Em 1Tm 4,14 e 2Tm 1,6 atribui-se a este gesto a comunicação de uma carisma estável que se define como espírito de força, de caridade e de conselho. A imposição das mãos está relacionada com a comunicação do Espírito Santo e, deste modo, a ordenação é algo mais do que um mero acto jurídico e mais do que a entrega oficial de um serviço à comunidade.

2. A imposição do livro dos evangelhos:

A interpretação do simbolismo da imposição do livro dos evangelhos sobre a cabeça do futuro bispo remete-nos para o mistério de Pentecostes: recorda as línguas de fogo que poisaram sobre a cabeça dos apóstolos, fazendo deles “doutores do universo”, segundo a interpretação patrística.

Outros Padres da Igreja sugerem a ideia de jugo, de submissão a uma autoridade, a sujeição à Lei.

3. As unções aparecem associadas pelos Padres da Igreja à unção dos sacerdotes e reis do Antigo Testamento, afirmando a superioridade do novo sacerdócio, pois, agora, já não é óleo material, mas o próprio Espírito Santo que unge interiormente os ministros da Igreja. Inspirado, provavelmente, em Lv 8,12 - a unção de Aarão -, o rito da unção é interpretado em sentido cultual, como uma consagração que confere “poder de abençoar e consagrar”.

4. O abraço da paz, ou beijo da paz que os ordenados recebem dos seus colegas da ordem à qual acabam de ser incorporados é uma bela expressão tradicional do significado da ordenação como agregação a um corpo ou colégio.

                      III. Símbolos específicos de cada ordem

A entrega de alguns símbolos característicos das diferentes ordens chama a atenção para algumas funções e respectivos poderes que a ordenação confere.

Assim, a entrega do Livro dos Evangelhos aos bispos e aos diáconos sublinha especialmente o ministério da Palavra ao qual deverão consagrar-se, doravante, cada qual na sua categoria.

A entrega do pão e do vinho aos presbíteros realça a presidência da Eucaristia como função paradigmática do ministério presbiteral.

Os quatro ritos peculiares com que se realiza a ordenação de um bispo - imposição do anel e da mitra, entrega do báculo e entronização na cátedra - descrevem a situação do bispo em relação à sua Igreja: como esposo, chefe, pastor e doutor.

O simbolismo da imposição das vestes características do novo ofício - estola e dalmática ao diácono, estola e casula ao presbítero - apontam, também, para funções que lhes correspondem, no âmbito do culto.

                        IV. A instituição do sacramento

A fundamentação da origem do sacramento da ordem no NT exige atenção à palavra de Jesus Cristo de modo a descobrir os diferentes momentos em que o seu mandato se foi instituindo.

A Igreja constatou, então, que Jesus Cristo, num momento inicial da sua vida pública chamou os que ele quis para os enviar a pregar, e que ao longo da sua vida foi concedendo aos Doze diversas atribuições para anunciar o reino de Deus e perdoar o pecado aos homens e, por último, depois de ressuscitado, confirmar o primeiro chamamento à missão, enviou-os, tal como ele havia sido enviado pelo Pai, e dotou-os com o poder do Espírito Santo para perdoarem os pecados.

No chamamento e na missão dos Doze, reiteradas ao longo da sua vida, Jesus Cristo instituiu no sacramento da ordem os que havia chamado e enviado para ficarem ao serviço da comunidade. O sacramento da ordem tem a sua raiz na missão, precedida do chamamento pessoal e sendo um sacramento de serviço à comunidade, ao recebê-lo, aquele que é enviado fica revestido do poder necessário para o realizar.

Tendo em conta que a instituição do sacramento da ordem se baseia no mandato que Jesus endereçou aos Doze pode compreender-se que Jesus Cristo não instituiu, em concreto, o rito do sacramento da ordem.

O concílio Vaticano II, recolhendo em síntese a doutrina eclesial anterior, ensina, nestes termos, a instituição divina do sacramento da ordem:

«Cristo Senhor, para dirigir e aumentar continuamente o Povo de Deus, instituiu na Igreja diversos ministérios, ordenados para o bem de todo o Corpo. Com efeito, os ministros que têm o poder sagrado servem os seus irmãos para que todos os que pertencem ao Povo de Deus, e por isso possuem a verdadeira dignidade cristã, aspirando livre e ordenadamente ao mesmo fim, alcancem a salvação» (LG 18).

O recente Directório para o ministério expõe que a Igreja considera o sacerdócio ministerial como um dom que lhe é outorgado através da entrega ao serviço, por parte de alguns dos seus fiéis. Tal dom, instituído por Cristo para continuar a sua missão salvadora, foi conferido, inicialmente, aos Apóstolos e continua na Igreja através dos bispos, seus sucessores (cap. I, n.1).

A fé da Igreja, que confessa com fidelidade constante a instituição divina do sacerdócio ministerial não se expressou sempre de modo coincidente.

O concílio Vaticano II, para fundamentar o sacramento da ordem, deixou a antiga posição eucarística e voltou-se para a missão.

Remontando ao mistério da Trindade, o Concílio fundamenta o sacerdócio ministerial em Jesus Cristo, o qual, constituído sacerdote ao ser enviado pelo Pai, torna aqueles que chama e envia, participantes na sua missão, na linha do evangelho de S. João: “como o Pai me enviou, assim eu vos envio a vós”. Consequentemente, com esta doutrina conciliar há-de concluir-se que, nos Doze, Jesus Cristo instituiu o ministério sacerdotal.

O Catecismo da Igreja Católica, em consonância com o Vaticano II, fundamenta de modo simultâneo a origem do ministério no ser sacerdotal de Cristo e no serviço ao Povo de Deus (nr. 875): «Ninguém pode dar a si mesmo o mandato e a missão de anunciar o Evangelho. O enviado do Senhor fala e age não por autoridade própria, mas em virtude da autoridade de Cristo; não como membro da comunidade, mas falando a ela em nome de Cristo. Ninguém pode conferir a si mesmo a graça; ela precisa ser dada e oferecida. Isto supõe ministros da graça autorizados e habilitados da parte de Cristo. Dele, os bispos e os presbíteros recebem a missão e a faculdade (o "poder sagrado") de agir "na pessoa de Cristo-Cabeça", os diáconos, a força de servir o Povo de Deus na "diaconia" da liturgia, da palavra e da caridade, em comunhão com o bispo e seu presbitério».

                        IV.1. Dimensão trinitária:

O Directório para o ministério propõe o seguinte fundamento: “Se é verdade que todo o cristão, pelo Baptismo, está em comunhão com Deus Uno e Trino, é também verdade que, em virtude da consagração recebida mediante o sacramento da Ordem, o sacerdote é colocado numa relação particular e específica com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo” ( I, 3).

O sacerdócio, em virtude da ordenação, tem de ser compreendido sempre a partir da dimensão trinitária e que, consequentemente, o trabalho pastoral que ele realiza na Igreja deriva desta consagração prévia (idem). Ou seja, a relação com Deus Trindade configura a identidade sacerdotal e, por isso, constitui a fonte do ser e também do agir do sacerdote.

                        IV.2. Dimensão cristológica:

O sacerdote, pela missão conferida por Jesus Cristo aos Doze e em virtude do sacramento que recebeu, fica configurado no seu ser, e também pelo seu viver, com Cristo sacerdote.

O sacerdote, por ser enviado de Cristo, define-se ministerialmente a partir de Cristo, e portanto age sempre na pessoa de Cristo, em nome e representação de Cristo. O ministro não só age a partir de Cristo, mas define-se na sua natureza sacramental a partir da relação pessoal com Cristo, que o assume e o torna capaz de agir em seu nome dentro da Igreja.

                        IV.3. Dimensão eclesiológica:

A dedicação eclesial do sacerdote parte da sua vinculação com Cristo, que o insere na Igreja, para que, com o seu serviço, faça chegar ao Pai a oração do povo, invoque sobre ele o dom do Espírito Santo e ofereça com a Igreja o sacrifício eucarístico.

«A tarefa do sacerdócio ministerial não é apenas representar Cristo - Cabeça da Igreja - diante da assembleia dos fiéis; ele age também em nome de toda a Igreja quando apresenta a Deus a oração da Igreja e sobretudo quando oferece o sacrifício eucarístico» (Catecismo n. 1552).

O ministro actua conjuntamente em nome de Cristo e da Igreja. Se a Igreja é corpo de Cristo (Ef 5,25), significa que quem está unido sacerdotalmente a Cristo está também unido com o seu corpo eclesial.

«O mandamento do Senhor de ir a todos os povos (Mt 28,18-20) constitui uma outra modalidade do estar do sacerdote „à frente‟ da Igreja” (nr. 29).

Enviado, - missus - pelo Pai, por meio de Jesus Cristo, o sacerdote pertence “de modo imediato” à Igreja universal que tem a “missão” de anunciar a Boa Nova até “aos confins da terra” (Act 1,8)» (Directório, cap. I, n. 14).

O sacerdócio, que integra os graus episcopal e presbiteral, é sucessor dos Apóstolos, porque ficou instituído na missão dos Doze. Porque participam sacramentalmente da missão conferida por Jesus Cristo aos Apóstolos, o bispo e o presbítero ficaram consagrados a Deus para agir na Igreja em nome do seu Filho. Esta é a origem e a natureza do sacramento da ordem, instituído por Jesus Cristo.

O bispo possui e exerce o sacerdócio instituído por Jesus Cristo na plenitude eclesial a partir da sua capitalidade à frente de uma Igreja particular, ao passo que o presbítero o exerce como colaborador necessário do bispo.

                        V. Missão e serviço

A missão e o ministério de Cristo são o elemento essencial para a compreensão do ministério.

Cristo escolheu os apóstolos, conferiu-lhes a sua própria missão e comunicou-lhes o mesmo Espírito que Ele havia recebido do Pai para que, depois da sua morte e ressurreição, a sua missão e a sua obra continuassem a realizar-se no tempo e no espaço.

O ministério apostólico perdura ainda hoje no ministério pastoral. É transmitido de geração em geração graças à série ininterrupta de imposição das mãos. Graças a elas, os diferentes ministérios da Igreja situam-se na linha da sucessão dos apóstolos.

A ordenação garante a vinculação dos ministérios com a missão histórica dos apóstolos de Cristo. Assegura a continuidade entre os ministérios actuais e o ministério dos apóstolos e, por fim, entre os ministérios e a missão e o ministério de Cristo. Os apóstolos situam-se, pois, no prolongamento da linha que vai do Pai ao Filho e do Filho aos apóstolos. Por isso se justifica que o ministério pastoral seja chamado ministério “apostólico”.

Na ordenação, os ministros cristãos recebem o mesmo Espírito que o Pai deu a seu Filho e este comunicou aos apóstolos com vista ao cumprimento da missão. A identidade do dom do Espírito é sinal da identidade da missão.

 

 

                         VI. Representação de Cristo

O Novo Testamento afirma a unicidade e transcendência do ministério mediador de Cristo: “Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, um homem: Cristo Jesus, que se entregou a si mesmo como resgate por todos” (1Tm 2,5-6; cf. Hb 8,6; 9,15; 12,24). Cristo é “sacerdote para sempre” (Hb 6,20; 7,3.24; 10,14). É o único sacerdote da nova aliança.

Desde as origens, e por vontade do próprio Jesus, existem na Igreja ministérios aos quais se atribuem prerrogativas que derivam da missão, do serviço e da condição pessoal de Jesus Cristo.

Os ministros da Igreja são “sinais”, “símbolos”, “imagens” de Cristo sacerdote, rei e profeta. Os ministros, na comunidade, “ocupam o lugar de Cristo”, “personificam a Cristo”, “fazem as vezes de Cristo”, são seus “vigários”.

A presença de Cristo nos seus ministros é entendida pela tradição como uma presença sacramental, portanto real. Através das palavras e das acções, quem age ao nível do mistério é Cristo. O ministro empresta-lhe os seus lábios e as suas mãos. “Pedro baptiza? É Cristo que baptiza” (S. Agostinho).

As acções litúrgico-sacramentais são, realmente, acções de Cristo: têm a Cristo como seu agente principal, ao nível do mistério.

A presença salvadora de Cristo torna-se visível na acção simbólico-sacramental dos seus ministros. Isto converte o ministro em “servidor de Cristo” - diakonos, doulos – (Rm 1,1; 1Cor 4,1; 2Cor 11,23; Fl 1,1). O seu ministério é um serviço, uma diakonia a Cristo.

                        VII. Ministério e Espírito Santo

A dimensão pneumatológica e cristológica do ministério são complementares e iluminam-se mutuamente.

O simbolismo dos principais ritos de ordenação leva-nos a realçar a presença e a actividade do Espírito. A imposição das mãos, tal como as unções, remete, directamente, à acção do Espírito. A imposição do livro dos Evangelhos sobre a cabeça do candidato ao episcopado remete-nos para a vinda do Espírito no Pentecostes.

Sobre a actividade do Espírito, nas ordenações, encontramos na tradição da Igreja, litúrgica e patrística, as seguintes afirmações:

- Existe na Igreja diversidade de serviços, graças ao Espírito Santo. Ele é o princípio estruturante da Igreja, aquele que “estabelece a hierarquia”. A organização interna da Igreja é obra do Espírito Santo. (1Cor 12,11.28)

- É o Espírito Santo quem escolhe os candidatos para o ministério, quem os ordena, quem lhes dá a graça e o poder de que necessitam para o desempenhar. O Espírito Santo é o agente principal da ordenação, presente na imposição das mãos.

- O dom ou carisma conferido na ordenação e que capacita o ordenado para o exercício do ministério é o Espírito Santo (1Tm 4,14; 2Tm 1,6-7); o mesmo Espírito que o Pai deu a seu Filho e que este transmitiu aos apóstolos. O que, invariavelmente, se pede para os ordinandos em todas as orações da ordenação, é o Espírito Santo; as orações consecratórias são verdadeiras epicleses. Entre os primeiros paradigmas da ordenação está o mistério de Pentecostes. (LG 21)

- A efusão do Espírito Santo na ordenação é a fonte da missão e do tríplice ofício de ensinar, santificar e governar e do poder exigido para cumprir a missão.

- A vinda do Espírito Santo sobre os que são ordenados é, ao mesmo tempo, fonte de graça e princípio de uma transformação profunda. Deus não quer os seus ministros como meros instrumentos para os utilizar mecanicamente.

Ficaram transformados em algo diferente daquilo que eram. Cristo consagrou os apóstolos por meio de uma santificação real. Pela comunicação do Espírito Santo, fortalecendo, de certa forma, a natureza humana num poder e numa glória que estão acima do homem” (Cirilo de Alexandria).

O Espírito Santo é comunicado na ordenação aos novos ministros com vista às funções que deles exigirá o serviço que lhes foi confiado. A ordenação faz deles instrumentos do Espírito e consagra-os para esta “diakonia do Espírito” (2Cor 3,8). O carisma que nela recebem, assegurar-lhes-á a assistência do Espírito e será a base da sua segurança no exercício das suas funções ministeriais.

                        VIII. Ministério e comunidade

O ministério é, antes de mais, um carisma que tem por finalidade assegurar o crescimento da Igreja, a sua continuidade e a sua unidade. Porém, é preciso recordar que a origem dos ministérios não está na comunidade, como emanação dela, mas em Cristo e no Espírito, que continuam a suscitá-los no interior da comunidade.

Os ministérios não estão antes da comunidade, nem estão acima, nem ao lado dela. São como uma estruturação interior da comunidade, como órgãos internos do corpo vivo de Cristo, e, como tal, são um elemento constitutivo da Igreja.

A Trindade suscita os ministérios na comunidade e para a comunidade. Esta perspectiva eclesiológica não está em confronto com as perspectivas cristológicas e pneumatológicas.

Os ministros são, ao mesmo tempo, diáconos de Cristo, instrumentos do Espírito e servidores da Igreja. Historicamente, os ministérios aparecem indissoluvelmente ligados à comunidade. Jesus escolheu os Doze na comunidade dos seus discípulos com vista ao novo Israel. (AG 5).

Para Paulo, os cristãos têm uma finalidade: servir o bem comum, edificar a comunidade (1Cor 12,7; 14,3-12).

Os diversos ministérios existem também para a edificação do corpo de Cristo (Ef 4,12), para “cuidar da Igreja de Deus” (1Tm 3,5). Brotam do interior da comunidade, como serviços à comunidade.

São as necessidades da comunidade que determinam o nascimento dos ministérios. Razão pela qual, no Novo Testamento os ministérios são inconcebíveis à margem da comunidade.

                        IX. Carácter diaconal do ministério ordenado

A Igreja deve ser entendida no seu carácter diaconal. Toda ela é ministerial, uma comunidade de serviços; por isso a diaconia faz parte da essência dos ministérios.

Na tradição evangélica, a categoria teológica adequada para interpretar o sentido do serviço e da responsabilidade na Igreja é a diaconia, entendida à luz do texto de Mt 20,28: «O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão» (cf. Mc 9,35; Mt 23,11; Lc 22,26-27).

Embora o nome de “diácono” seja próprio de um ministério particular, pode ser considerado como o denominador comum de todos os ministérios, porque “todos os que fomos eleitos para alguma classe de ministério nos chamamos diáconos de Cristo”, como afirmava Teodoro de Mopsuéstia.

A ordenação induz o ordenado a uma nova relação com o povo cristão, que é de serviço. Ministério e bem comum aparecem como dois valores inseparáveis: a razão de ser dos ministérios é a utilidade da Igreja.

O Vaticano II significou a recuperação do significado original. Utilizou a categoria do “serviço” como uma das chaves interpretativas fundamentais da sua doutrina sobre os ministérios. O grande modelo e exemplar da diakonia apostólica, é aquele que “não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28).

Diakonein, na boca de Jesus, significa, antes de mais, servir à mesa - tarefa de escravos, na antiguidade. Por isso ele “tomou a condição de escravo - doulos (Fl 2,7) -, e encarnou na sua pessoa a missão e sorte do servo de Yahweh (Is 49-53).

A ideia da exemplaridade da diaconia de Cristo, nas fontes litúrgicas e fora delas, chega-nos, por vezes, na figura de bom Pastor, ao ponto de, desde os tempos apostólicos, o nome de “pastor”, ser um dos mais comuns do ministro cristão.

Na comunidade cristã a autoridade do ministro é a do bom pastor, a dar a vida pelas ovelhas (Jo 10,11). A sua actividade ministerial é a expressão sacramental da “pro-existência” de Cristo, da sua vida como “ser-para-os-outros”.

No Novo Testamento, a diaconia é forma fundamental de o cristão ser e estar no mundo. A história da salvação tem uma estrutura “diacónica”. Cristo fez-se verdadeiro servo e servidor e quebrou o sistema de relações definido em termos de poder e domínio. Entre os cristãos, não há escravos nem senhores, dominadores e dominados, mas somos todos “servidores” e “escravos” uns dos outros.

Por isso mesmo, todo o ministério, e não só o ministério ordenado, tem de ser interpretado e vivido em chave de serviço. Ser servidor não é uma qualidade optativa, mas uma forma de ser constitutiva do ministério eclesial.

No ministério ordenado esta qualidade de serviço tem uma conotação especial, visto que se trata de servir representativamente a singularidade escatológica do ministério de Cristo, a sua auto doação como servo humilde e sofredor. Quer dizer, trata-se de um serviço que visa tornar transparente o serviço do Servo escatológico.

É isto que a Igreja quer dizer quando afirma que, desde o princípio, os apóstolos agem «em nome do Senhor Jesus Cristo» ou «com o poder do Senhor Jesus» (2Ts 3,6; 1Cor 1,10; 5,4); ou quando os Padres da Igreja dizem que “quando o sacerdote baptiza não é ele que baptiza, mas Cristo” (Cipriano, Agostinho, João Crisóstomo).

                        X. A colegialidade do ministério

A colegialidade é constitutiva da Igreja inteira: esta identifica-se com a “Igreja una”, acima da comunhão de todos os baptizados e de todas as igrejas particulares que a integram. Desde o início que a colegialidade representa uma dimensão importante do ministério: é um elemento que lhe é essencial e está inscrito na sua própria natureza.

Em matéria de ministérios, o fundamental e primordial é o colégio e não os ministros isoladamente. Mas a colegialidade dos ministérios é inconcebível à margem da colegialidade da Igreja.

De um lado, a união do bispo com o seu presbitério e com a ordem dos diáconos é sinal eficaz da comunhão interna da Igreja local. Do outro, “a Igreja que universalmente é una, não está dividida, nem partida, mas bem travada e ligada ao vínculo dos bispos unidos entre si”, no dizer de S. Cipriano.

A colegialidade dos ministérios nasce da ordenação sacramental. É o sacramento que constitui os ordenados como membros da ordem episcopal, presbiteral ou diaconal.

Porém, desde a época patrística começaram a surgir diversos factores que levaram progressivamente à perda da consciência da colegialidade presbiteral, tais como:

  • a multiplicação das igrejas urbanas e rurais, assistidas por presbíteros em nome do seu bispo, dando origem à imagem do presbítero como chefe de uma pequena comunidade autónoma;
  • a concepção individualista dos poderes sacerdotais;
  • a ideia feudal da autoridade do bispo, incompatível com a ideia da co-responsabilidade.

                        XI. A identidade do ministério ordenado

O Vaticano II exprime-se, deste modo: «Pelo sacramento da ordem, os presbíteros ficam selados com um carácter, ou marca particular, e assim se configuram com Cristo sacerdote, de modo que possa agir na pessoa de Cristo cabeça» (PO 2; LG 10,28; SC 33; CD 11).

Este agir in persona Chisti não quer dizer que o ministro substitua, ultrapasse ou faça as vezes de Cristo. Quer isto dizer que não há outro ministro senão Cristo. A medida e o modelo de todo o ministério é Cristo. Todos os outros ministérios se fundam em Cristo e são a continuação histórica eclesial do ministério de Cristo, para quem remete e a quem torna presente.

Pelo sacramento da ordem o ministro é consagrado, capacitado, e destinado a exercer o serviço da “representação” de Cristo através da palavra e dos sacramentos. É então que o ministro torna presente a Cabeça dentro do corpo que é a Igreja.

Cristo actua e fala por ele. Cristo prolonga por intermédio dele de forma concreta, acessível e personalizada o seu ministério de salvação e reconciliação. «Pelo ministério ordenado, especialmente dos bispos e padres, a presença de Cristo como Cabeça da Igreja torna-se visível no meio da comunidade dos crentes» (Catecismo, 1549).

Para que isto apareça deste modo, é preciso que o ministro seja verdadeiro “sacramento”, deixe transparecer e brilhar Cristo, seja sinal vivo daquilo que significa.

Mas não pode substituir ou ultrapassar Cristo. Ele é a mediação simbólica pessoal de Cristo, a visibilização corporal da capitalidade de Cristo, mas não é Cristo (outro Cristo). Aqui se enraíza a grandeza e dificuldade da sua missão.

A identidade e especificidade do ministério implicam o serviço a partir da representatividade na comunhão e edificação da Igreja. Isto quer dizer que o ministro tem por função “re-presentar” a Igreja, agir “em seu nome” e como “na sua pessoa”, sempre que exerce o serviço cultual ou quando exerce o serviço da Palavra ou o serviço da caridade.

Esta “representação” deve se entendida não como “honra” e “privilégio”, mas como verdadeiro serviço na relação da comunidade com Cristo, das comunidades entre si, do cristão com a comunidade eclesial, do cristão e a comunidade com a missão apostólica.

O Presbítero realiza o serviço de representatividade, tornando presente Cristo e a Igreja nas diversas funções, por meio das quais realiza a missão: a Palavra, o culto, a caridade e direcção da comunidade.

A especificidade da participação presbiteral no tríplice múnus, ou função, é a representatividade com que exerce as diferentes funções (profética, sacerdotal, caritativa e de comunhão) ao realizá-las por uma “presidência” que é coordenação e harmonia da unidade com a diversidade.

Compete-lhe o serviço da Palavra como a qualquer cristão, mas com a função especial de velar pela sua verdade e autenticidade na unidade.

Compete-lhe também o serviço à Eucaristia, tal como aos outros cristãos, mas com a responsabilidade especial de quem preside e garante a participação e a unidade.

Também lhe compete a caridade e a justiça como aos outros, mas com o compromisso de fazer com que reine o amor e a fraternidade entre os membros da comunidade.

Quando o ministério presbiteral se compreende a partir desta ideia central, não é possível existir contraposição entre ele e os ministérios laicais.

Muito pelo contrário, a sua missão é garantir e animar estes serviços e ministérios, porque só a partir deles é possível cumprir a missão de Cristo na integridade das suas dimensões e porque somente com eles se realiza e edifica a Igreja na diversidade e na unidade que o Espírito promove.

                        XII. Ministério Diaconal

O ministério pastoral como um todo integral, mantendo um equilíbrio e unidade entre as três funções, superando a interpretação cultual-ritual do conjunto dos ministérios. Com efeito, adquire relevo a tripla diaconia como participação dos diáconos no ministério ordenado:

                        - Diaconia da Palavra

                        - Diaconia da Liturgia

                        - Diaconia do Serviço da Caridade.

«A tríplice diaconia ministerial constitui uma unidade de serviço no plano de Deus: o ministério da Palavra conduz ao ministério do altar, o qual, por sua vez, tem que traduzir a liturgia na vida e desemboca na caridade» (João Paulo II).

A missão do diácono deve realizar-se segundo as exigências do tríplice ministério - palavra, liturgia e caridade - para não ficar relegado para tarefas marginais, para funções de substituição ou para tarefas que normalmente realizam os fiéis não ordenados: só assim o diácono permanente aparecerá na sua verdadeira identidade de ministro de Cristo e não apenas como um leigo particularmente comprometido na vida da Igreja.

É necessário tornar permanentemente visível o que toda a Igreja deve viver sempre e em qualquer circunstância: a atitude de Cristo Servidor. A Igreja está ao serviço da mediação essencial de Cristo. Visto que a Igreja se apresenta como a que serve essa mediação, deverá existir na comunidade um sinal de referência que manifeste esse serviço permanente e insubstituível.

Esta é a primeira missão do diácono. O que é comum a todos e à comunidade está sacramentalizado no diácono: servir. Mas não se trata apenas de ser sinal da diakonía da Igreja, mas sinal e representação de Cristo Servidor. Esta é mais autêntica missão do diácono.

Na sociedade de bem-estar e consumismo em que vivemos, o diácono tem uma missão de serviço de amor aos que sofrem, de modo particular aos excluídos, marginalizados, doentes, discriminados, em ruptura familiar, desempregados e emigrantes. O diácono tem que ser sinal que represente a dimensão diaconal na vivência e realização da própria vida matrimonial.

«Resplandeçam na sua vida todas as virtudes: a solicitude pelos doentes e pelos pobres, perseverem firmes e constantes em Cristo, de forma que imitando na terra o vosso Filho, que não veio para ser servido, mas para servir, mereçam reinar com Ele no céu». (na ordenação)

A vocação do diácono tem três dimensões: profissional, familiar e eclesial. O diácono tem que viver a sua vocação num equilíbrio constante entre os três ambientes. No diácono, o prioritário é a família, depois a profissão e depois o ministério comunitário. Esta é uma óptica nova de perceber o ministério, onde se deixa de lado a ideia de que o mais importante é o "sobrenatural", o "sagrado", o "sacramental", em detrimento das realidades "profanas". O diácono não está fora do mundo, mas no mundo para o servir e transformar.

A vocação do diácono realiza-se na família, no trabalho e na vida da comunidade. O diácono não é só diácono quando está no altar. O diácono é diácono imerso nas realidades do dia-a-dia, na história concreta que lhe compete viver.

A sua missão é a mesma missão da Igreja: evangelizar para construir o Reino de Deus. Porém, o diácono realiza esta missão destacando a dimensão do serviço. A sua missão específica é fazer com que toda a Igreja seja uma Igreja servidora, para que sejam vividas e testemunhadas as palavras de Cristo: "O Filho do homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por todos" (Mt 20,28).

Os diáconos são homens escolhidos por Deus, que generosamente respondem à vocação, confirmados na sua vocação pelo bispo e pela comunidade, cheios do Espírito Santo, e que, conduzidos por este mesmo Espírito, se entregam à realização da missão da Igreja no ministério do serviço, de forma permanente, isto é, sempre e para sempre, como colaboradores dos bispos, realizando à sua missão sempre em unidade com o presbitério.

 

«Não é suficiente anunciar a fé só com palavras, é necessário acompanhar o anúncio do Evangelho com o testemunho concreto da caridade. Há muitos pobres que batem às portas das comunidades paroquiais para pedir uma ajuda necessária para superar momentos de grave dificuldade.

Acolhei estes irmãos com grande cordialidade e disponibilidade, e tentai, na medida do possível, ajudá-los em suas necessidades. Sede diáconos da Verdade que liberta, e levareis os homens a encontrar-se com Jesus Cristo».

Papa Bento XVI aos Diáconos Permanentes.


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